“Você curte a página do Bolsonaro?”

Cleiton
5 min readApr 21, 2016

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“Tudo era apenas uma brincadeira, e foi crescendo, crescendo, me absorvendo, e de repente eu me vi assim, completamente seu…”

Todos sabemos que o brasileiro é cordial, mas já tem um tempo que a galera está com umas ideias bem tortas do que é e não é ser cordial. Desde que o Facebook começou a bombar forte por aqui, páginas das mais diferentes vertentes foram criadas, dando abertura para todo mundo c̶o̶m̶p̶a̶r̶t̶i̶l̶h̶a̶r̶ ̶n̶o̶t̶í̶c̶i̶a̶s̶ ̶f̶a̶l̶s̶a̶s̶ ̶e̶ ̶a̶s̶ ̶o̶u̶t̶r̶a̶s̶ ̶d̶e̶s̶g̶r̶a̶ç̶a̶s saber o que de melhor acontece no mundo e dar o seu pitaco sobre tudo.

Com isso, ideias antagonistas começaram a se chocar, normalmente em condições nem um pouco cordiais e trazendo discussões acaloradas para o seio familiar brasileiro. (Não que isso não acontecesse antes, mas é evidente o fator potencializador que as redes sociais trouxeram.)

Uma das formas que o brasileiro nas redes sociais achou para resolver isso foi o desprezo completo da opinião contrária, levando ao fim de amizades virtuais e reais com um simples clique.

Belém, Belém, nunca mais fico de bem.

Outra vertente, que ganhou força de uns tempos pra cá, foi a de mandar um ultimato para quem curte páginas/pessoas que você não gosta. A moda não é nova: em 2014 o @BuzzfeedBrasil fez uma lista nessa pegada:

Só que no último final de semana as coisas ficaram fora de controle, cortesia de um deputado democraticamente eleito que nem sempre é democrata, seu filho-e-herdeiro-ideológico e o primeiro Brother gay que possui um trabalho pró-LGBT enquanto defende Israel e critica a Globo. Muita gente começou a questionar os amigos que aparecem entre os que “curtem” Jair Bolsonaro, graças a uma campanha memética que rodou o Facebook e Twitter. Isso quando não deletavam sumariamente ou ~obrigavam~ a pessoa a descurtir a página. Tanto que o assunto foi tema de uma outra publicação do Buzzfeed:

Não vi, mas não duvido que também tenha rolado campanhas similares pedindo pro pessoal deixar de ser amigo de quem curte as páginas do Eduardo Bolsonaro ou do Jean Wyllys. O importante é que tudo isso só serviu para dar mais projeção e likes para eles:

Na última semana Bolsonaro pai teve um acréscimo de 425% de novos seguidores, Bolsonaro filho de 383% e Wyllys 3.574%.

Desde que tais campanhas começaram a rolar, muita gente veio me me perguntar saber se eu realmente curtia em sã consciência a página de Jair Bolsonaro. Todas as vezes respondi a mesma coisa: que sim, curtia a página dele. Mas que curtia a página dele da mesma forma que curtia a página de Jean Wyllys, Dilma Rousseff, Aécio Neves, Paulo Maluf, Geraldo Alckmin, Fernando Haddad, Andrea Matarazzo, Ivan Valente, Eduardo Cunha e outros tantos políticos, partidos e páginas e grupos sobre política: por conta do protagonismo que eles possuem, por tentar acompanhar tudo que rola nos diferentes lados/articulações políticas e por querer saber o que é dito por eles, sem o filtro publicações que escolhem quem merece espaço e com qual holofote. Possuo sim minhas opiniões e preferências políticas, mas não é por conta disso que vou deixar de acompanhar opiniões contrárias. Não acho que política deva ser tratado como muita gente trata música, como “o ritmo que eu gosto é o legal, todos os outros são chatos que me recuso a ouvir”. Por conta de todos esses questionamentos, resolvi fugir do meu ‘editorial’ no Facebook e escrever um textão político:

Basicamente foi isso.

Depois do textão, o @screamyell compartilhou esta ótima dica do @interney que é válida não só com políticos mas com qualquer outra coisa que você queira acompanhar e não queira curtir, tem vergonha de aparecer entre seus likes ou preguiça de ver no seu feed:

Além disso, achei outra possibilidade de evitar questionamentos enquanto criava a minha lista sobre política, que é editar a privacidade das suas curtidas, deixando visível somente para você. Assim, você pode continuar curtindo o que quiser mas seu nome não aparecerá publicamente quando alguém resolver bancar o Detetive Virtual do Fantástico.

O Facebook possui um guia bem fácil de entender sobre como fazer isso, que disponibilizo abaixo, mas é só ir no seu perfil, clicar em Sobre, ir até a parte das Curtidas, clicar no ícone de globo 🌐 de qualquer página e selecionar a opção Editar privacidade. Aí é só selecionar a privacidade de cada uma das categorias de páginas que você curte e ser feliz.

No final, a grande dúvida que nos resta é: como os ideais de democracia republicana federalista brasileira sobreviverão na era das redes sociais? Talvez o Gustavo Ricci já tenha nos dado a resposta:

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