Benny, Brown, Britto

Qual é o verdadeiro compromisso?

Cleiton
6 min readNov 7, 2015

Finalemente saiu o disco novo do Naldo Benny, o eterno axila, com capa assinada pelo Romero Britto, o Andy Warhol brasileiro:

Como sempre, Naldo está rodeado de artistas de peso: ele já dividiu os microfones com Lula (seu falecido irmão, com quem teve uma dupla entre 1996 e 2009, não o ex-presidente), Fat Joe, Flo Rida, Cláudia Leitte, Sampa Crew, Alexandre Pires, Xande de Pilares, Preta Gil e Buchecha.

Neste último disco, não poderia ser diferente: Mr. Catra, Mc Guimê, MC PJ, K Rose e o tremendão Erasmo Carlos têm a honra de cantar com o Kanye West brasileiro.

Pergunta que não quer calar: quando vai sair esta parceria?

Porém, uma das participações do disco de Naldo causou comoção e roubou a cena quando a parceria foi divulgada.

Ao contrário do que acreditam muitos motoristas, não há nenhuma objeção prevista pelo Código de Trânsito Brasileira contra o uso de celulares em postos de gasolina. Ah, e belo boné, Brown.

A parceria de Mano Brown com Naldo foi logo refutada por muitos fãs de Brown, que chegaram a dizer que ele se vendeu e perdeu a identidade, como nos mostra @aleeorrico no Buzzfeed.

A música dos dois só foi lançada junto com o disco. Com o único título possível, “Benny e Brown” começa com uma ~mensagem de zapzap de Brown, que logo depois canta com uma voz robótica uma letra cheia de referências, entre elas aos jogadores de basquete Anderson Varejão e Leandro Barbosa, Tim Maia, Romero Britto e Emerson Sheik, entre outros.

A letra narra as dificuldades iniciais dos dois cantores, enumera várias comunidades em uma ponte-aérea do gueto e ostenta marcas como Yves-Saint Laurent. Será que Ciro Hamen e Matheus Laneri ajudaram a escrever esta história de superação e exemplo do Brasil que deu certo?

Quanto àquestão da parceria entre Benny e Brown, vale lembrar que esta não é a primeira vez que o líder dos Racionais MC’s participa do trabalho de outros artistas. Em 1995, enquanto o pagode romântico e o hip-hop saíam da periferia paulista e conquistavam o Brasil, Mano Brown participou da faixa-título do terceiro disco do Negritude Júnior, “Gente da Gente”, disco que também conta com o hit “Cohab City”.

Uma coisa interessante desta participação é o vídeo abaixo, do Negritude Jr. se apresentando no programa da Furacão 2000. “Sobrevivendo no Inferno”, o disco que projetou os Racionais MC’s para todo o Brasil, só sairia dois anos depois, em 1997, então não é de se estranhar que um dos membros do Negritude Jr. se passa pelo Mano Brown e ninguém na plateia carioca (apática com o pagode paulista) percebe.

Seis anos depois, em 2001, Mano Brown participou de outra parceria de destaque, desta vez com um dos fundadores do Fundo de Quintal, Almir Guineto. A parceria faz parte do disco “Todos Os Pagodes”, que também conta com as presenças de Alcione, Beth Carvalho, Jorge Aragão, Sérgio Reis, Zeca Pagodinho, entre outros.

2009 presentearia e surpreenderia os fãs dos Racionais que estavam à espera do sucessor de “Nada Como Um Dia Após O Outro Dia” com “Dance Dance”, groove de Brown em parceria com Dom Pixote e Seu Jorge.

Em 2010, foi a vez de Brown se juntar com Jorge Ben Jor e o Negresko Sis (Céu, Anelis Assumpção e Thalma de Freitas), em uma regravação de “Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)” patrocinada pela Nike e produzida por Zé Gonzales e Daniel Ganjaman. Para participar desta gravação, ele recebeu dinheiro suficiente para comprar a Blue House, onde está produzindo seu primeiro disco solo há anos.

No mesmo ano, Brown participou, novamente junto com Dom Pixote, da música “Boa Noite São Paulo”, da Banda Black Rio. No ano seguinte, 2011, Brown participou do DVD “Dexter e Convidados Ao Vivo”, na música “Sou Função”.

Em 2013 (em uma prévia da polêmica parceria com Naldo?), Mano Brown participou de um clipe do MC Pablo. A participação causou polêmica entre os fãs, e a assessoria dos Racionais disse que sua participação não tinha sido autorizada, mas voltou atrás.

No mesmo ano, Brown participou do DVD “Ciolo & Emicida Ao Vivo”, cantando os clássicos dos Racionais MC’s “Capítulo 4, Versículo 3” e “Vida Loka I”. Neste caso a aceitação foi melhor, apesar das críticas por parte dos seguidores do rap brasileiro aos dois artistas.

Desde então, Brown também participou de um vlog do João Gordo, tornou-se cada vez mais parceiro de Eduardo Suplicy, até chegar aonde estamos, na parceria com Naldo Benny.

Num futuro impreciso (assim como o dos lançamentos dos Racionais), Mano Brown pretende lançar o seu primeiro disco solo, com músicas românticas, uma pegada disco funk e… algumas participações. Sua resposta para a revista Rolling Stone em 2013 sobre possíveis críticas dos fãs ao seu disco solo soam precisas para a sua nova parceria:

“O rap não pode ser limitante. O negro já tem tantas limitações no Brasil, tantas regras e o rap ainda te põe mais cerca. Não pode isso, não pode aquilo. O rap nasceu da liberdade e da expansão das ideias. É mais comovente se apoiar na fraqueza e divulgar isso, lavar roupa suja o tempo inteiro, expor as fragilidades o tempo todo, na feira livre. Teve um momento em que isso foi preciso. Hoje em dia é exposição, é Datena, que entra na casa das pessoas e mostra a panela suja, o cara morto embaixo da cama, é isso aí. Teria que ser isso e eu não quero ser isso”, diz Brown, que se apresenta preparado para aceitar as críticas sobre o estilo do seu primeiro álbum sem o Racionais. “Ninguém vai algemar o Pedro Paulo. Ninguém vai me fazer Mano Brown o tempo todo. Pode esquecer. Querer fazer a minha vida virar Racionais o tempo inteiro ninguém vai. Na minha vida mando eu. Eu quero que as pessoas sejam livres e eu também sou.”

Além do lançamento do disco novo do Naldo, esta semana também ficamos sabendo que OsGemeos fizeram a arte da capa do próximo disco do Jota Quest, que contará com participações especiais de Nile Rodgers (novamente) e Anitta.

A dupla de grafiteiros brasileiros mais conhecida no mundo já fez capas para Siba e a Fuloresta, Ponto de Equílibrio e OGI.

Estariam OsGemeos também se vendendo e perdendo a identidade, como acusaram os fãs de Mano Brown? Vale lembrar que o grafite, o rap e o break são todos partes da cultura hip-hop.

No final das contas, o esquema é fazer como o Sabotage e fazer, ouvir e curtir o que quiser. Nesta entrevista do Sabotage para o Kamau, no Yo MTV, no qual ele cita entre as coisas que gosta de ouvir “…Sandy & Junior, cara. Escuto pra caralho os backing vocal daquela menina…”. Veja abaixo a partir do 01:39:

“Não devo, não temo e dá meu copo que já era.”

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