A solução definitiva para a Cultura no Brasil

Cleiton
3 min readFeb 3, 2016

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Mais um aparato de Cultura mantido pelo governo pegou fogo. E, mais uma vez, os governos federal, estaduais e municipais, que investem bilhões de reais anualmente em uma área tão delicada, têm que ver os seus recursos sendo consumidos pelas chamas, péssimas administrações, reformas inconclusivas e acervos que se deterioram. Até quando os governos levarão a culpa por aparatos culturais que gastam mais dinheiro em coquetéis do que em prevenção de incêndios?

Por isso, surge o momento de uma solução radical para este impasse na Cultura. Uma solução que trará benefício à todos e que levará a Cultura para um novo patamar: que o governo deixe de investir em Cultura.

Sejamos francos: se a Cultura fosse realmente importante para o Brasil ela teria sua importância destacada, pelo menos, desde a República Velha. Teria representatividade, um ministério, cargos comissionados para pensar na Cultura como algo relevante para a unidade nacional. Mas isto não aconteceu até 1953, quando o então presidente Café Filho decidiu desmembrar o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública, criado em 1930 pelo ditador favorito dos brasileiros, Getúlio Vargas, e criou o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação e Cultura. A Cultura no Brasil surgiu como um apêndice do Ministério da Educação, além de uma desculpa para criar a sigla MEC. Somente em 1985 José Sarney, escritor e primeiro presidente da Nova República, decidiu retirar o apêndice da Educação e criou o Ministério da Cultura, em um momento de possível interesse em aumentar a divulgação de seus escritos ou querendo criar uma indústria cultural que nunca vingou.

Há 30 anos a Cultura é uma política de estado no Brasil, mas o que ela rendeu? Bilhões de reais são gastos anualmente com aparatos culturais que insistem em pegar fogo, em ter estruturas que não resistem ao tempo e acervos que não sobrevivem meia hora sem ar-condicionado. Bilhões de reais do Brasil e dos brasileiros são gastos todos os anos em aparatos que não dão lucro, não conseguem criar um comércio próprio que seja rentável e sempre reclamam de doações insuficientes. E, se cortes são feitos, reclamam que não conseguem sobreviver. Uma área dita como criativa que não consegue sequer explorar o seu potencial criativo quando passa por um ajuste financeiro.

Os aparatos culturais, além de não serem rentáveis, ainda estimulam os brasileiros a desperdiçar preciosas horas, forças e dinheiro em filas para entrar em exposições e exibições de filmes, somente para poderem dizer para todos que estavam lá. Este desperdício de capital ainda fomenta as redes sociais com os registros em texto, foto e vídeo, registros estes que elas transformam em informação e dinheiro, que é guardado em países que não são o Brasil e paraísos financeiros.

A deglutição cultural também cria um estado de inanição produtiva: por acaso Roberto Marinho estava em alguma fila do MIS quando criou as Organizações Globo? Foi em alguma fila da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo que Norberto Oderbrecht criou um dos maiores conglomerados brasileiros? José Cutrale Júnior estava admirando alguma natureza morta ao montar o império que atualmente controla um terço dos sucos de laranja do mundo? Para eles, os aparatos culturais servem apenas como cenário para coquetéis, lugares onde podem realizar doações quem ajudam a diminuir seus impostos — que parecem grandes para os aparatos culturais, mas que são inexpressivos para seus lucros — e para saírem bem nas fotos com obras de arte que servem para decorar suas casas construídas com o duro trabalho ou que, ao serem doados para algum aparato cultural, demonstram a compaixão de figuras tão importantes com o Brasil.

Por isso, é preciso que o governo deixe de investir em Cultura. Que este dinheiro vá para áreas que são os verdadeiros potenciais brasileiros: agricultura, pecuária, bancária, empreiteiras, indústria automobilística, entre outros. E que os aparatos culturais fiquem aos cuidados de quem possui real interesse, consiga lucrar com eles e crie, da Cultura, uma real indústria no Brasil.

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